Devedor de pensão alimentícia deve ter nome negativado
A legislação prevê três formas de forçar o inadimplente
de pensão alimentícia ao pagamento de sua dívida: o desconto em folha (artigo
734 do Código de Processo Civil), a expropriação de bens (artigo 646) e a
prisão (artigo 733, parágrafo 1º). No entanto, nos casos em que o devedor não
possui vínculo formal de trabalho, está foragido ou teve seu prazo de prisão
expirado, a negativação do nome perante os órgãos de proteção ao crédito é o
único meio eficaz de fazer com que provenha a sua parte no sustento da criança,
segundo a 20ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
A Turma determinou, por maioria, a inclusão, nos
cadastros do Serasa e do SPC, do nome de um homem que deve R$1.023,00 de pensão
alimentícia. De acordo com a decisão, publicada no último dia 18 de fevereiro
sob segredo de Justiça, a expressão “ordem judicial” deverá substituir, no
registro, o nome do credor e a origem da dívida.
No caso, o pai deixou de cumprir acordo judicial pelo
qual teria de pagar a seu filho pensão no valor equivalente a metade do salário
mínimo. A fim de fazê-lo cumprir com a obrigação, a mãe da criança obteve na
Justiça a penhora dos valores depositados no seu FGTS. Quando deferiu o
levantamento da penhora — que não chegou a cobrir metade da dívida —, o juízo
de primeiro grau assinalou que o alimentante revelara-se um “devedor contumaz”,
tendo em vista que ainda não havia quitado seu débito após três anos.
"Conteúdo coercitivo"
De acordo com o relator do acórdão, desembargador Marco Antônio Ibrahim, a falta de legislação específica não deve ser impeditivo para a inclusão de devedores como este nos órgãos de proteção ao crédito. Ibrahim questiona o argumento de que o alimentante não pode ter seu nome incluso porque não tomou qualquer tipo de crédito. A medida, segundo ele, deve ser avaliada “pelo seu conteúdo coercitivo e não pela razão ou motivo da dívida”.
De acordo com o relator do acórdão, desembargador Marco Antônio Ibrahim, a falta de legislação específica não deve ser impeditivo para a inclusão de devedores como este nos órgãos de proteção ao crédito. Ibrahim questiona o argumento de que o alimentante não pode ter seu nome incluso porque não tomou qualquer tipo de crédito. A medida, segundo ele, deve ser avaliada “pelo seu conteúdo coercitivo e não pela razão ou motivo da dívida”.
“Aqui se mostra impositivo se recorrer à máxima quem pode
o mais, pode o menos, porque se o juiz pode determinar a prisão por até 60 dias
do devedor de alimentos, poderá, meramente, determinar a negativação de seu
nome em órgãos de proteção ao crédito”, pontua.
O relator reconhece que há, nesse caso, colisão entre o
direito à privacidade e o direito à vida, mas entende que o direito à dignidade
do credor de alimentos deve preponderar. Na visão do desembargador, tal medida
é também uma forma de proteger a economia, uma vez que o inadimplemento de
obrigações creditícias causa prejuízo para toda a sociedade. “Com efeito,
aqueles que tomam crédito regularmente são sacrificados com maiores taxas em
razão da inadimplência ou mora daqueles que não cumprem suas obrigações”,
argumenta.
ECA
“A rigor, o devedor de alimentos a filho menor ou a uma pessoa incapacitada de trabalhar, causa dano muito maior do que aqueloutro que deixa de pagar a prestação de um eletrodoméstico. Tanto assim que, em caso de alimentos, a Constituição Federal prevê a mais grave e excepcional medida coercitiva que é a prisão”, diz o desembargador, para quem, além dos princípios constitucionais, devem ser invocados os dispositivos dos artigos 4º e 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que concretizam o princípio da proteção integral do menor.
“A rigor, o devedor de alimentos a filho menor ou a uma pessoa incapacitada de trabalhar, causa dano muito maior do que aqueloutro que deixa de pagar a prestação de um eletrodoméstico. Tanto assim que, em caso de alimentos, a Constituição Federal prevê a mais grave e excepcional medida coercitiva que é a prisão”, diz o desembargador, para quem, além dos princípios constitucionais, devem ser invocados os dispositivos dos artigos 4º e 6º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que concretizam o princípio da proteção integral do menor.
A possibilidade de registro do nome do devedor de
alimentos nos órgãos de proteção ao crédito já vem sendo discutida em projetos
de lei em trâmite no Senado e na Câmara dos Deputados, informa o relator. Um
deles, o Projeto de Lei do Senado 405/2008, propõe a criação de um novo banco
de dados, o Cadastro de Proteção ao Credor de Obrigações Alimentares (CPCOA),
que estaria interligado aos demais bancos de dados. O Projeto de Lei 799/2011,
por sua vez, prevê a inclusão do devedor nos órgãos já existentes.
“Atenta à efetivação da prestação jurisdicional e aos
princípios constitucionais mencionados, a jurisprudência de nosso país, embora
ainda de forma tímida, vem se posicionando favoravelmente à adoção da medida”,
analisa o relator, que lista em seu voto decisões análogas tomadas por diversos
tribunais estaduais.
Processo 0043346-45.2013.8.19.0000
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